Cumpriu-se mais um dia de folclore. O povo, ordeiramente, desfilou avenida abaixo, entoando as velhas palavras de ordem. Em luta por um emprego de melhor qualidade, dizem os dirigentes sindicais. Isto num país onde encontrar um trabalho qualquer é uma sorte, soa a piada.
Amanhã, tudo continuará como antes. Trabalho cada vez mais precário, salários miseráveis, novos despedimentos, reformas de pobreza uns dias antes da morte…
As centrais sindicais terão cumprido o seu papel e a consciência restará tranquila até ao próximo 1º de Maio. Estes dirigentes sindicais, tão velhos quanto a nossa democracia, são apenas a outra face do poder que nos conduziu ao atoleiro onde nos encontramos. Devo dizer que por vezes, tenho até alguma dificuldade em diferenciar as organizações sindicais das patronais. No fim de contas, os sindicatos vivem dos mesmos que enriquecem o patronato e os políticos: os trabalhadores.
A sua noção de contestação, de defesa dos trabalhadores é, no mínimo, hipócrita. Lembrem-me por favor, nos últimos 15 anos, que medidas lesivas dos interesses dos trabalhadores foram alteradas por motivo de contestação na rua organizada por qualquer das centrais sindicais?
Será que os senhores Proença e Carvalho não aprenderam nada com os franceses na contestação que estes fizeram à lei do primeiro emprego? Será que estão mesmo convencidos que as suas ordeiras manifestações têm qualquer efeito, ou que alguém as tem em conta?
Ou, tal como os políticos, estão-se apenas borrifando para nós?